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domingo, 30 de outubro de 2022

MORRO DO CASTELO - O desmonte

 O arrasamento do Morro do Castelo, entre 1921 e 1922, foi debatido intensamente durante anos por políticos, engenheiros, jornalistas, religiosos, escritores, sanitaristas e pessoas influentes da alta sociedade. Uns defendiam a preservação do morro onde a cidade nasceu e sua recuperação social, enquanto outros desejavam a sua extinção pelos mais diferentes motivos, sendo o progressismo pós Proclamação da República o mais preponderante. Coube ao Prefeito Carlos Sampaio (1861-1930), engenheiro, responsável pela montagem da Exposição Internacional Comemorativa ao Centenário da Independência, dar a palavra final e amputar a geografia da cidade de seu morro mais importante.

O desmonte, de fato, já havia iniciado em 1904, quando parte do morro foi "aparado" para a abertura da Av. Central, próximo à Praça Floriano (Cinelândia) e a construção dos belos prédios da Biblioteca Nacional, da Escola Nacional de Belas Artes e do Supremo Tribunal Federal, todos lado à lado.

O Morro do Castelo possuía 65 metros de altura, 408 prédios e cerca de 4.200 moradores de baixa renda conhecidos como "castelenses". 

O arrasamento começou pela trecho onde hoje existe a Rua México, com o rejeito sendo transportado para a orla da Rua Santa Luzia a fim de ampliar a Av. Beira-mar até a Ponta do Cabalouço.

1. Apresentamos inicialmente este mapa ilustrativo de 1780 com os principais pontos de referência do Morro do Castelo. À direita da caixa indicativa Ladeira do Castelo está o Bairro da Misericórdia, com sua principal via, a Rua da Misericórdia, entrecortada por becos e travessas, para onde a cidade cresceu aos pés do morro.

2. Esta foto ao redor de 1904 mostra os trabalhos de abertura da Av. Central (a partir de 1912 Av. Rio Branco) próximos ao Morro do Castelo, visto à esquerda da imagem. Foi necessário cortar parte do morro daquela lateral e com isso um dos seus acessos foi extinto - a Ladeira do Seminário (vide mapa anterior). Assinalamos o Convento de N. Sra. da Ajuda para melhor localizar o caro visitante. Ele foi demolido em 1911 e no final da década de 20 foram construídos naquele terreno os prédios da Cinelândia, muitos dos quais ainda existem, como o "Amarelinho" e o Odeon.
 
2a. Foto contemporânea a anterior.

2b. Outra foto do local, provavelmente da mesma sequência.
 
2c. Foto colorizada de 1904. As palmeiras vistas parecem ser as mesmas das fotos anteriores em ângulo distinto e momento anterior.

2d. 1905. Neste trecho serão construídos o prédios da Biblioteca Nacional e da Escola de Belas Artes.
 
3. Esta outra fotografia, por volta de 1906, mostra a Av. Central já totalmente aberta ao público. Observar no fundo, à esquerda da avenida, os terrenos já preparados para a construção da Escola Nacional de Belas Artes (de 1909), Biblioteca Nacional (obras já em curso concluídas em 1910) e do Supremo Tribunal Federal (também de 1909, hoje Centro Cultural da Justiça Federal). É a mesma área vista nas fotos anteriores. Notar na lateral direita os fundos do Teatro Municipal (de 1909) em obras.

4. O terreno delimitado para a construção da Biblioteca Nacional com o Morro do Castelo nos fundos.
 
4a. Mesmo trecho da foto anterior, em momento mais avançado do desmonte.
 
5. Interessante imagem do final das obras da Biblioteca Nacional. Observar a proximidade do morro atrás do prédio.
 
6. 1905. Eis o terreno da Escola Nacional de Belas Artes, depois Museu, com o Morro do Castelo ao fundo. É possível perceber o quanto do morro foi cortado.

7. Agora estamos em 1921 no começo da derrubada do Morro do Castelo. Esta foto mostra a futura Rua México (antiga Rua Paralela), nos fundos da Biblioteca Nacional, vista na lateral direita. No começo dos trabalhos de remoção, o serviço era executado manualmente com picaretas e pás, sendo o rejeito transportado por carroças puxadas por animais.
 
  
7a. Cerca de 1921. Uma imagem obtida do alto do morro, vendo-se abaixo, de fundos, a Biblioteca Nacional e a Escola de Belas Artes. Alguns trabalhadores fazem o serviço manual no sopé do morro. Parece que a futura Rua México está delineada.
 
8. 1921. Foto oposta a anterior.
 
9. 1921. Mesmo ângulo da imagem acima.
 
9a. 1921.
 
10. 1922. Alarga-se a região devastada.

10a. Sem data em local não reconhecido.
 
10b. Idem.
 
10c. 1922. À esquerda é o trecho em subida a partir da Chácara da Floresta com a Igreja de São Sebastião no canto superior esquerdo. Vide foto do ano anterior a seguir.

11. 1921. Em destaque o prédio da Cervejaria Hanseática que em breve será demolido. Situava-se atrás da Biblioteca Nacional (à direita, fora da foto).

11a. 1922. O prédio da cervejaria isolado, aguarda sua derrubada.
 
12. 1921. Construções antigas sendo demolidas atrás da Escola Nacional de Belas Artes. No fundo, à esquerda, está o prédio já citado da cervejaria. 
 
12a. 1921.

13. 1921. Provavelmente estamos vendo a despedida do prédio da cervejaria no evento de inauguração da rua México.
 
14. O mesmo trecho visto nas três fotos anteriores, agora sem as antigas edificações coladas ao morro. Várias fotos aqui apresentadas estão também expostas em nossa postagem sobre a Rua México (vide aqui).

14a. 1922.

 
15. 1922. Comparar com foto 7.
 
16. Trabalhadores fazem pesado serviço manual.

17. Em 1922 com a injeção de novos recursos financeiros foi possível intensificar os trabalhos e utilizar nova tecnologia de demolição à jatos d'água lançados sob alta pressão além do transporte de máquinas pesadas e rejeitos por trens. 
 
17a. A chegada de novo maquinário acelerou o trabalho.
 
  
18. 1922. No alto a Igreja de São Sebastião vive seus últimos dias. Vide mapa ilustrativo na foto 1.
 
19. 1922. Pás mecânicas retiram as terras removidas e colocam em vagões para transporte.
 
20. 1922.

21. 1922.

21a.  Tomada da extinta Praia de Santa Luzia em 1922. Contraste surreal: à esquerda a Igreja de Santa Luzia, ainda hoje no mesmo local, e à direita a Igreja de São Sebastião vive seus últimos dias.

21a. 1922.

 
22. 1922. Na lateral direita vemos, de fundos, a Biblioteca Nacional e, na esquerda, as Enseadas da Lapa e da Glória.
 
22a. Complemento à esquerda da foto anterior. Notar a Igreja de Santa Luzia.
 
22b. 1922.

22c. 1922. Nesta elevação ficava a Igreja de São Sebastião. Observar mais abaixo, à esquerda, as torres da Igreja de Santa Luzia.

22d. Esta imagem fala por si.

22e. Foto colorizada destaca um trabalhador manejando uma mangueira de alta pressão de água utilizada no processo de desmonte. Alguns responsáveis pelo trabalho observam junto às árvores. No canto superior direito vemos por trás as duas torres sineiras da Igreja de Santa Luzia.

23. 1922. Segundo foi pesquisado, este trecho ficava no final da atual Av. Almirante Barroso (antiga Rua Barão de São Gonçalo), na Chácara da Floresta, um dos acessos ao morro.

24. A Ladeira da Misericórdia e a Rua do Castelo estão sendo destruídas. À esquerda vemos os fundos da Santa Casa de Misericórdia e no alto o Hospital São Zacharias e a Igreja dos Jesuítas.

24a. Imagem colorizada dos últimos dias da igreja acima citada. Em destaque a sua torre sineira.
 
25. 1922. Triste fim da Igreja dos Jesuítas, com mais de duzentos anos, que fez parte da fundação da cidade.

25a. 1922. A terras retiradas do morro serviram para o aterro da área logo abaixo onde seriam construídos os pavilhões da Expo 1922 assim como para o aterro da parte baixa do Morro Urca e de alguns trechos do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas (futura Av. Epitácio Pessoa).
 
25b. Não temos a data desta foto aérea, porém vemos que o morro está no processo final de desmanche, portanto 1922. A linha amarela delimita a área original do morro. Notar que os rejeitos estão sendo depositados na orla à direita. Na parte baixa está a Av. Rio Branco, na altura da Praça Floriano, identificando-se, a partir da esquerda o prédio da Escola de Belas Artes, o Teatro Municipal (mais abaixo), a Biblioteca Nacional, o Supremo Tribunal Federal e a Rua Santa Luzia (em profundidade) estendendo-se até a Igreja de Santa Luzia e a Santa Casa de Misericórdia no limite do morro.

26. Concluídos os trabalhos de demolição e remoção dos rejeitos, uma imensa área livre surgiu, a qual, anos depois, se transformaria na Esplanada do Castelo. Nesta foto vemos no fundo, à direita, a silhueta do futuro Ministério da Agricultura (antigo Pavilhão dos Estados Brasileiros na Expo 1922). No centro, ao fundo, vemos a silhueta de dois torreões do Mercado Municipal e na lateral esquerda o antigo prédio do Tribunal de Justiça (hoje Centro Cultural). Com estas referências podemos inferir que o fotógrafo está próximo à futura Av. Presidente Antônio Carlos perto da Rua Almirante Barroso. O trecho ainda com pequena elevação, à direita, será extinto no final dos anos 20, restando apenas um diminuto pedaço sem saída da Ladeira da Misericórdia, único remanescente geográfico da existência do Morro do Castelo.

27. Esta foto parece ser a continuação à direita da foto anterior. Na extrema direita está uma das torres sineiras da Igreja de Santa Luzia e à esquerda os fundos da Santa Casa de Misericórdia.
 
27a. 1927. Na lateral esquerda está um dos torreões do Mercado Municipal e o antigo Arsenal de Guerra. Na lateral direita, a Ponta do Calabouço.

27b. 1929. No fundo, à esquerda, vemos as silhuetas dos torreões do Mercado Municipal. Mais abaixo, na esplanada, está o primeiro prédio construído na área devastada do morro: Associação Cristão de Moços - ACM, na esquina das, já demarcadas, Av. Graça Aranha e Rua Araújo Porto Alegre (Vide foto 29d). O prédio no canto inferior esquerdo é a sede do antigo STF, localizado na Av. Rio Branco, altura da Praça Floriano (Cinelândia).
 
28. 1928. Seis anos após o término do desmonte pouca coisa avançou na área da nova esplanada.
 
29. 1928. Uma comitiva do Prefeito Prado Jr. visita o pequeno trecho que sobreviveu ao desmonte do morro, mas que em breve desaparecerá.
 
29a. À esquerda destaca-se o Pavilhão dos Estados da Expo 1922.
 
29b. 1924. Um grupo de crianças que ainda reside nas ruínas do morro. Logo serão "removidas". O destino dos "castelenses", como eram chamados os moradores do morro, foi a origem de um grande problema social. Eles foram espalhados por diversas regiões da Zona Norte e Centro (Lapa, Bairro de Fátima, Catumbi, Cidade Nova, Zona Portuária, Morro do Pinto, Morro de São Carlos, Morro da Mangueira, Morro do Salgueiro, Morro do Borel, Morro dos Macacos e Marechal Hermes). Esse deslocamento de famílias de baixa renda não foi previamente planejado e provocou o crescimento desordenado destes locais agravando as condições de habitação, saneamento e saúde já existentes.
 
29c. 1924. O mesmo local da foto anterior na parte restante do morro. As construções ao fundo pertenceram a Expo 1922.

29d. 1925. Estas construções restantes no alto do morro, à direita, podem ser vistas na foto 29a.
 
29e. Foto colorizada com data desconhecia. Ao fundo algumas construções da Expo 1922, destacando-se o prédio com cúpula arredondada acima do homem. É o Pavilhão de Festas.
 
29f. 1929. Em destaque o primeiro prédio construído na Esplanada do Castelo: Associação Cristã de Moços - ACM, localizada na ainda inexistente Rua Araújo Porto Alegre esquina com Av. Graça Aranha. No fundo, à direita, vemos a Igreja de Santa Luzia por trás. Vide foto 27.

29g. 1929.
 
29h. Para se ter uma ideia ampla da devastação do morro, apresentamos esta foto aérea por volta de 1930. No pé da imagem está a Igreja N. Sra. da Glória do Outeiro, seguindo pra cima vemos a Praça Paris recentemente inaugurada e, mais adiante, a área descampada da futura Esplanada do Castelo. No alto da foto identificamos a Ilha das Cobras ligando-se ao continente pela Ponte Almirante Alexandrino. Por fim, no canto superior esquerdo, está uma parte do Ed. "A Noite", na Praça Mauá.

 

30. Esta foto, de 1936, prova quanto tempo a área livre ficou sem construções. Pontos de referência:

1) Santa Casa de Misericórdia (de fundos);

2) Tribunal de Justiça;

3) Escola de Magistratura;

4) Palácio Tiradentes;

5) Igreja de São José;

6) Teatro Municipal;

7) Museu de Belas Artes;

8) Biblioteca Nacional;

9) Palácio Monroe;

10) Palácio Pedro Ernesto (Câmera de Vereadores);

11) Praça Paris;

13) Convento do Carmo;

14) Paço Imperial;

15) Rua da Assembleia;

16) Rua São José;

17) Av. Presidente Antônio Carlos;

18) Av. Almirante Barroso; e

19) Igreja de Santa Luzia.

31. 1923. O fotógrafo está ao lado da Igreja de Santa Luzia apontando sua câmera para o fundo dos prédios indicados.

32. 1928. Pela data mostrada, trata-se do desmanche final da área remanescente vista na sequência das fotos 29 a 29c.

33. 1928.
 
34. 1928. Últimos moradores misturam-se com autoridades para uma foto final do desmanche.

35. Foto aérea de 1934 mostra a Esplanada do Castelo na lateral direita com a Av. Rio Branco em profundidade, à esquerda, no sentido Praça Mauá, altura da Cinelândia.

domingo, 16 de outubro de 2022

APÊNDICE IX - Lagoas Aterradas

Os primeiros colonizadores a chegar na futura cidade encontraram uma aparência geográfica inteiramente distinta do que conhecemos hoje. O território a desbravar era de difícil deslocamento, cheio de lagoas cercadas por morros com densa vegetação, manguezais alagadiços e diversas praias. A seguir apresentamos uma imagem do que seria este território central da cidade com indicações:

 Imagem1. Simulação do litoral da cidade de Botafogo até São Cristóvão.

1) Lagoa de Santo Antônio;

2) Lagoa do Boqueirão;
 
3) Lagoa do Polé;

4) Lagoa do Desterro;
 
5) Manguezal de São Diogo;

6) Saco de São Cristóvão;
 
7) Saco do Alferes;

8) Saco da Gamboa;

9) Morro do Castelo;

10) Morro de São Bento;

11) Morro de Santo Antônio;

12) Morro do Senado;

13) Morro da Saúde;

14) Morro da Gamboa;

15) Morro da Conceição;

16) Morro do Livramento;
 
17) Morro da Providência;

18) Morro do Pinto (antigo Morro do Nheco);

19) Morro de São Diogo;

20) Outeiro da Glória;

21) Ponta do Calabouço; e 
 
22) Lagoa do Sentinela.
 
Lagoa de Santo Antônio - Situava-se onde hoje fica o Largo da Carioca (indicação nº 1 da Imagem 1). Por volta de 1723 seu aterramento teve início a fim de extinguir as pragas que proliferavam no manguezal que rodeava suas águas insalubres aos pés do morro de mesmo nome. Na época, o local ainda era ermo do centro urbano da cidade que se desenvolvia ao redor do Morro do Castelo, mas não possuia um sistema de água potável eficiente. Os frades franciscanos que se instalaram na subida do Morro de Santo Antonio, no começo do século XVII, ansiavam por transformar a lagoa de águas paradas num local mais saudável pois ali também afluía as águas canalizadas do Rio Carioca, oriundas de Santa Teresa, que atravessavam o Aqueduto da Lapa até alcançar uma pequena fonte ao lado do convento. O aterramento do manguezal levou 5 anos para ser concluído, todavia quando terminou já havia um novo chafariz com maior capacitada de captação. A circulação de pessoas aumentou em busca do chafariz de águas límpidas do Rio Carioca e, como consequência natural, a região se desenvolveu velozmente, tendo seu nome alterado para Largo da Carioca. Outros dois chafarizes substituíram os antigos: um de 1750 (até 1834) e o último de 1848 (até 1926).

Imagem 2. Simulação de 1650. A Lagoa e o Convento de Santo Antônio.

 
Imagem 3. Litografia de 1845. Parte do antigo chafariz (à esquerda) e o Convento de Santo Antônio.

Lagoa do Boqueirão d'Ajuda - Esta lagoa ficava no local onde atualmente existe o Passei Público, na Lapa (indicação nº 2 na Imagem 1). Era a única lagoa da cidade, no período colonial, que se ligava ao mar. Segundo relatos de cronistas da época, tratava-se de um pântano pestilento, mal cheiroso e repugnante devido ao constante lançamento de dejetos humanos. Com esta insalubridade prevalecendo a região era pouco habitada e não se desenvolvia. Em meados do século XVIII uma forte epidemia de gripe e febre atingiu grande parte da população da cidade e sua origem foi, em parte, atribuída a presença deste lodaçal imundo e propenso a propagação de diversos tipos de peste. Em 1799 a lagoa foi aterrada com as terras oriundas do desmonte do pequeno Morro das Mangueiras localizado na Rua Visconde de Maranguape, bem próxima. As obras de construção do lindo Passeio Público levaram 4 anos e foi concebida pelo ilustre Mestre Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813).

Imagem 4. Tela datada de 1790. O Convento de Santa Teresa (canto superior esquerdo), o Aqueduto da Lapa, a Igreja N. Sra. do Carmo da Lapa do Desterro (extrema esquerda) e a Lagoa do Boqueirão cujo aspecto aqui em nada representou a realidade.

Imagem 5. Simulação da antiga orla diante da Lagoa do Boqueirão.

Lagoa do Desterro - Localizada entre o Morro de Santo Antônio e o Morro do Desterro (atual Morro de Santa Teresa), mais precisamente próxima a Rua dos Arcos onde situa-se hoje o Circo Voador e a casa de espetáculos Fundição Progresso (indicação nº 4 da Imagem 1). Foi aterrada em meados do século XVIII para a construção de moradias naquele lado da cidade (Rua Riachuelo, Rua Mem de Sá e Rua dos Arcos). Esta lagoa, devido a sua proximidade, interligava-se com a Lagoa do Boqueirão citada anteriormente.

Imagem 6. Cerca de 1758. A Lagoa do Desterro atrás dos Arcos.

Lagoa da Sentinela (ou de Capueiruçu) - Ficava na confluência das Ruas Mem de Sá (antiga Rua dos Arcos) e Frei Caneca (antiga Rua do Conde), numa das vertentes do Morro do Senado (antigo Morro Pedro Dias). A lagoa foi aterrada entre 1779 e 1800. Vide indicação nº 22 da Imagem 1.

Imagem 7. Encontramos apenas este mapa feito à bico de pena ao redor de 1770. Circundamos a região da lagoa para facilitar a leitura. Observar que a cidade era densamente ocupada entre os Morros do Castelo e de São Bento (abaixo da palavra "cidade"). O restante era "roça". 

Lagoa do Polé (ou da Pavuna) - Existiu na região da atual Praça da República (Campo de Santana). Outrora foi um terreno alagadiço utilizado como depósito de lixo e esgoto numa região distante do centro urbano da cidade. Durante a gestão (1790-1801) do Vice-rei Dom José Luís de Castro, o Conde de Resende, a lagoa foi aterrada, transformando-se num campo de grande dimensão que alterou de nome diversas vezes. Finalmente em 1889, com a Proclamação da República, tornou-se oficialmente uma praça com a atual nomenclatura. Infelizmente não encontramos imagens do primitivo local. Vide indicação nº 3 da Imagem 1.

Manguezal de São Diogo - A área da atual Cidade Nova, compreendida entre a Praça XI e o Trevo das Forças Armadas, pela Av. Presidente Vargas, até hoje é conhecida como Mangue porque o local era pantanoso e alagadiço. Isto ocorria devido a um braço do mar vindo do Saco de São Cristóvão que adentrava pela região da atual Av. Francisco Bicalho, passando ao lado do Morro de São Diogo, ponto geográfico que anos mais tarde foi utilizado para extração de granito e reduzido apenas a uma pedreira, ainda hoje existente ao lado da Estação do Metrô Cidade Nova, do outro lado da linha férrea da Central do Brasil. Após a chegada da Família Real Portuguesa, em 1808, esta região era caminho para se atingir o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, residência oficial de seus membros. Decidiu-se, portanto, construir um canal ladeado por duas estradas no meio daquele enorme brejo, foco de mosquitos e odor desagradável a fim de facilitar o deslocamento da Praça XV, onde ficava o Paço Real, até o palácio. Assim, inicialmente, foi construída uma pequena passagem aterrada (futura Rua Senador Euzébio, já extinta) com uma pequena ponte para que as carruagens da Corte pudessem passar. Desta forma, o local passou a ser conhecido como "Aterrado". Um precário sistema de iluminação a óleo de baleia instalado naquele caminho ermo também ensejou outro nome: "Caminho das Lanternas". Em 1857 começou, finalmente, a abertura do Canal do Mangue com o propósito de receber as águas das chuvas e dos riachos que desaguavam por lá. Após 3 anos de obras a região foi drenada, saneada, aterrada e dispunha de um estreito canal que ia da antiga Ponte dos Marinheiros (ou do Aterrado) até a Praça XI com duas ruas laterais, a Av. do Mangue. Melhoramentos e urbanização, com a plantação das palmeiras imperiais, somente foram concluídos em 1876. Na gestão (1902-1906) do Prefeito Pereira Passos o canal foi estendido até o mar pela atual Av. Francisco Bicalho, mesma ocasião em que foi construído o novo porto da cidade e a Av. do Cais (depois Av. Rodrigues Alves), na atual zona portuária, totalmente aterrada até a Praça Mauá. Vide indicação nº 5 da Imagem 1.

Imagem 8. Simulação da região ao redor do Manguezal de São Diogo.

Imagem 9. 1860. Planta da região do Manguezal de São Diogo após a abertura do Canal do Mangue.
 
Imagem 10. A título de curiosidade apresentamos esta foto sem data mostrando a entrada do Saco de São Cristóvão com a Ilha dos Melões ao fundo. É o local onde hoje se encontra a Rodoviária Novo Rio. Vide seu posicionamento no mapa anterior.
 
Imagem 11. Fotografia muito antiga, embora sem data, mostra a entrada do Saco de São Cristóvão com destaque para as duas ilhas que ali se posicionavam: Ilha dos Melões e Ilha dos Cães (ou Ilha das Moças). Confrontar com imagens 1 e 9.
 
Lagoa Rodrigo de Freitas - Diversos aterros foram realizados em suas bordas no começo dos anos 20 e posteriormente nos anos 60 para criação e duplicação das pistas de rolamento das Avenidas Epitácio Pessoa e Borges de Medeiros, assim como ao redor das Ilhas dos Caiçaras e Piraquê. O seu espelho d'água foi tombado pelo patrimônio do município em 1990, todavia houve uma perda entorno de 40% do seu tamanho original.

Imagem 12. 1922. Aterramento em parte da Lagoa Rodrigo de Freitas para construção da Av. Epitácio Pessoa com o entulho proveniente do desmonte do Morro do Castelo.