O centro da cidade, até o final do século XIX, foi cercado de praias, muito embora pouco frequentadas. O crescimento da metrópole exigia mais espaço disponível a fim de se construir ruas, avenidas, a região portuária, parques, aeroporto e praças. Na foto acima obtida de satélite vemos toda a região central que margeia a Baia de Guanabara compreendida entre a Marina da Glória até o trecho da atual Av. Rodrigues Alves próximo à Rodoviária Novo Rio. A linha amarela é o limite da costa existente antes dos aterros que extinguiram todas as praias ali nomeadas. A linha vermelha próximo à Marina, no pé da imagem, indica a Av. Beira-mar construída na gestão do Prefeito Pereira Passos que fez desaparecer quatro praias. No centro da imagem há duas linhas paralelas em branco que indicam o traçado da Av. Presidente Vargas para melhor posicionar o caro visitante.
Há de se ressaltar que antes do século XX, o hábito de se banhar nas águas da praia ou pegar sol não era bem visto como lazer, pois permanecer em público com o corpo pouco coberto não denotava recato. Diante disso, a relação de praias a seguir deve ser encarada como acidente geográfico e não local próprio para banhistas. Além disso, muitas destas praias, foram naturalmente aproveitadas para a construção de ancoradouros, fazendo crescer as atividades econômicas nem seus entornos e a fixação de residências.
Praia do Russel - Anteriormente conhecida como Praia D. Pedro I. Localizava-se na altura do extinto Hotel Glória, continuação da Praia do Flamengo. Desapareceu em 1905 com a abertura da Av. Beira-mar.
Praia da Glória - Localizada na altura de onde hoje existe Largo da Glória, sumindo também parcialmente com a criação da Av. Beira-mar, em 1905, e completamente com a abertura do Parque do Flamengo no final da década de 60.
Praia da Lapa - Ficava entre o Terraço do Passeio Público e o Largo da Glória. Também era conhecida como Praia do Boqueirão ou Praia do Mar de Espanha. Com a abertura da Av. Beira-mar, em 1906, construiu-se uma mureta que separava a orla da avenida o que limitava o acesso de pessoas à praia, embora a faixa de areia fosse curta. Anos depois desapareceu por completo com a criação do Aterro do Flamengo.
Alguns historiadores citam a existência da Praia da Ajuda situada em frente ao extinto Convento de N. Sra. da Ajuda no final da atual Av. Rio Branco, após o Obelisco. Deveria ser a continuação natural da Praia da Lapa. No mapa inicial desta postagem ela não está indicada. Em 1922 após a demolição do Morro do Castelo, bem próximo, a terra removida foi depositada nesta região para a criação da atual Av. Presidente Wilson (antiga Av. das Nações) onde foram construídos os pavilhões internacionais da Exposição Comemorativa ao Centenário da Independência realizada naquele mesmo ano. A praia deixou de existir.
Praia de Santa Luzia - Essa talvez tenha sido a praia antiga mais popular da virada do século passado. Localizava-se em frente a Igreja de Santa Luzia e chegou a contar com um balneário para os frequentadores trocarem de roupa, tomar banho, relaxar, apreciar uma bebida servida por garçons, dispor de salva-vidas, boias, píer, escadas e cordas. Assim como a Praia da Ajuda, ela foi sepultada pelas terras extraídas do Morro do Castelo em 1922. Vide postagem isolada aqui.
Outra praia existente na sequência deste trecho que não foi assinalada na imagem inicial desta postagem foi a Praia das Virtudes. Após o desmonte dos pavilhões da Exposição de 1922 a região foi sendo aos poucos ocupada por novas ruas e construções, contudo o aterro próximo às águas formou uma praia artificial que durante os anos 30 foi muito procurada até que outro aterro ocorresse para a construção do Aeroporto Santos Dumont. Foi o fim da Praia das Virtudes.
Praia Dom Manuel - Esta praia existia na região em frente ao antigo Hotel Pharoux, local hoje próximo à Estação das Barcas na Praça XV (vide foto 7). Com a construção do Cais Pharoux e depois o Mercado Municipal a linha d'água neste trecho ficou ausente de areia e a praia sumiu.
Praia dos Mineiros - Ficava na altura da Rua da Candelária no local aproximado onde hoje se encontra o 1º Distrito Naval (vide foto 7). Na região foi construido um ancoradouro, o mais importante da cidade durante o século XVIII. O cais era pequeno e não suportava o aporte de navios maiores que fundeavam ao largo, próximo à Ilha das Cobras e Ilha de Villegagnon, o que dificultava o embarque e desembarque de mercadorias que eram transferidas para saveiros atrasando a operação portuária em alguns dias. Se o navio fosse de passageiros o desconforto era igualmente grande. Urgia a construção de um cais novo para sanar as enormes dificuldades existentes.
No mapa inicial desta postagem onde se lê "Armazém do Sal" (ao pé do Morro da Conceição), na atual Praça Mauá, havia também a Prainha que foi omitida naquela imagem, entretanto está indicada claramente na planta acima. Pelo nome no diminutivo acredita-se que era uma praia mais famosa por sua localização do que por sua extensão. A posição aproximada era entre o trecho do atual píer do Museu do Amanhã e a base Morro de São Bento voltada para a baía, onde no passado remoto existiu a antiga Doca de Dom Pedro. Lembramos ao caro visitante que a atual Rua do Acre denominava-se no passado Rua da Prainha, pois estava em linha reta com esta praia. Ela desapareceu com a construção da Praça Mauá em 1910.
Praia do Valongo - Situada no trecho da
atual Rua Barão de Teffé (vide foto 7), local onde existiu no passado o Cais do Valongo que
recebia embarcações de tráfico de escravos vindos da África até 1831. Em 2011 descobriu-se um sítio arqueológico, hoje exposto à visitação pública. É, por esta razão, considerado patrimônio histórico da humanidade desde 2017. O ancoradouro foi criado no final do século XVIII especialmente para desembarque e comércio de escravos, pois antes era realizado no Cais da Praia do Peixe, na atual Praça XV e comercializado na principal rua da cidade, a Rua Direita (atual Rua Primeiro de Março) causando muito constrangimento aos transeuntes da alta classe. Em 1843 foi construído outro cais no local que recebeu o nome de "Cais da Imperatriz" que desapareceu na gestão do Prefeito Pereira Passos, em 1904.
Praias da Saúde e da Gamboa - Os dois bairros vizinhos se originaram numa mesma enseada com características geográficas semelhantes e ambos possuíam praias. A orla antigamente era habitada exclusivamente por pescadores e um primeiro aterro desfigurou a enseada com a construção da Rua da Gamboa. As praias foram aterradas totalmente em 1904, na administração de Pereira Passos para a construção do novo Porto do Rio de Janeiro. Sobre as praias, em áreas ganhas do mar, foram construídas enormes edificações, lado a lado, conhecidas na época como trapiches (depois armazéns numerados até 17) na principal rua da região, a nova Av. Rodrigues Alves, que iniciava na Praça Mauá e ainda se estende até o começo de São Cristovão. O cenário natural dos bairros desapareceu assim como a pesca. O impacto causado não foi apenas paisagístico, foi econômico, cultural e ambiental. Toda a região portuária ficou abandonada e desvalorizada até o começo deste século.
Praia do Caju - O bairro é um dos mais antigos da cidade. Com a chegada da realeza portuguesa ao Brasil, em 1808, a região do Caju que era totalmente rural e de beleza natural, iniciou processo de urbanização com o loteamento de terrenos destinados às famílias portuguesas vindas com a Corte que ali foram residir. Dom João VI, morador da Quinta da Boa Vista, local próximo, frequentava suas águas por recomendação médica. Havia até a Casa de Banho do ainda príncipe, onde hoje é o Museu da Comlurb. A extinta praia passava por toda a extensão da atual Rua Monsenhor Manuel Gomes, a rua dos cemitérios, até a Rua da Harmonia. Anos mais tarde com a construção da Av. Brasil, o bairro perdeu muito em importância e acabou abandonado pelo poder público. Finalmente, nos anos 70, com a abertura das vias de acesso à Ponte Rio-Niterói a praia, já bastante poluída, foi aterrada e desapareceu.
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