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segunda-feira, 14 de junho de 2021

APÊNDICE V - Praias extintas

O centro da cidade, até o final do século XIX, foi cercado de praias, muito embora pouco frequentadas. O crescimento da metrópole exigia mais espaço disponível a fim de se construir ruas, avenidas, a região portuária, parques, aeroporto e praças. Na foto acima obtida de satélite vemos toda a região central que margeia a Baia de Guanabara compreendida entre a Marina da Glória até o trecho da atual Av. Rodrigues Alves próximo à Rodoviária Novo Rio. A linha amarela é o limite da costa existente antes dos aterros que extinguiram todas as praias ali nomeadas. A linha vermelha próximo à Marina, no pé da imagem, indica a Av. Beira-mar construída na gestão do Prefeito Pereira Passos que fez desaparecer quatro praias. No centro da imagem há duas linhas paralelas em branco que indicam o traçado da Av. Presidente Vargas para melhor posicionar o caro visitante.  

Há de se ressaltar que antes do século XX, o hábito de se banhar nas águas da praia ou pegar sol não era bem visto como lazer, pois permanecer em público com o corpo pouco coberto não denotava recato. Diante disso, a relação de praias a seguir deve ser encarada como acidente geográfico e não local próprio para banhistas. Além disso, muitas destas praias, foram naturalmente aproveitadas para a construção de ancoradouros, fazendo crescer as atividades econômicas nem seus entornos e a fixação de residências.

Praia do Russel - Anteriormente conhecida como Praia D. Pedro I. Localizava-se na altura do extinto Hotel Glória, continuação da Praia do Flamengo. Desapareceu em 1905 com a abertura da Av. Beira-mar.

 
1. Praia do Russel

1a. Praia do Russel

Praia da Glória - Localizada na altura de onde hoje existe Largo da Glória, sumindo também parcialmente com a criação da Av. Beira-mar, em 1905, e completamente com a abertura do Parque do Flamengo no final da década de 60. 

2. Praia da Glória

Praia da Lapa - Ficava entre o Terraço do Passeio Público e o Largo da Glória. Também era conhecida como Praia do Boqueirão ou Praia do Mar de Espanha. Com a abertura da Av. Beira-mar, em 1906, construiu-se uma mureta que separava a orla da avenida o que limitava o acesso de pessoas à praia, embora a faixa de areia fosse curta. Anos depois desapareceu por completo com a criação do Aterro do Flamengo.

 3. Praia da Lapa
 
 
3a. Foto colorizada.

Alguns historiadores citam a existência da Praia da Ajuda situada em frente ao extinto Convento de N. Sra. da Ajuda no final da atual Av. Rio Branco, após o Obelisco. Deveria ser a continuação natural da Praia da Lapa. No mapa inicial desta postagem ela não está indicada. Em 1922 após a demolição do Morro do Castelo, bem próximo, a terra removida foi depositada nesta região para a criação da atual Av. Presidente Wilson (antiga Av. das Nações) onde foram construídos os pavilhões internacionais da Exposição Comemorativa ao Centenário da Independência realizada naquele mesmo ano. A praia deixou de existir.

Praia de Santa Luzia - Essa talvez tenha sido a praia antiga mais popular da virada do século passado. Localizava-se em frente a Igreja de Santa Luzia e chegou a contar com um balneário para os frequentadores trocarem de roupa, tomar banho, relaxar, apreciar uma bebida servida por garçons, dispor de salva-vidas, boias, píer, escadas e cordas. Assim como a Praia da Ajuda, ela foi sepultada pelas terras extraídas do Morro do Castelo em 1922. Vide postagem isolada aqui.

Outra praia existente na sequência deste trecho que não foi assinalada na imagem inicial desta postagem foi a Praia das Virtudes. Após o desmonte dos pavilhões da Exposição de 1922 a região foi sendo aos poucos ocupada por novas ruas e construções, contudo o aterro próximo às águas formou uma praia artificial que durante os anos 30 foi muito procurada até que outro aterro ocorresse para a construção do Aeroporto Santos Dumont. Foi o fim da Praia das Virtudes.

4. Anos 40 - Praia das Virtudes

Praia Dom Manuel - Esta praia existia na região em frente ao antigo Hotel Pharoux, local hoje próximo à Estação das Barcas na Praça XV (vide foto 7). Com a construção do Cais Pharoux e depois o Mercado Municipal a linha d'água neste trecho ficou ausente de areia e a praia sumiu.

 
5. 1840 - Praia Dom Manuel e Cais Pharoux
 
Praia do Peixe - Esta outra praia, também na região da Praça XV, não era própria a banhistas, pois situava-se em frente ao antigo Mercado do Peixe, local de desembarque do pescado para ser comercializado no mercado. Sua posição exata é no "retângulo" ao lado da Estação do VLT na Praça XV (vide foto 7). Na verdade ali não havia mais areia desde que uma rampa foi construída destinada à atracação de pequenos barcos de pesca.

6. 1880 - Praia do Peixe

Praia dos Mineiros - Ficava na altura da Rua da Candelária no local aproximado onde hoje se encontra o 1º Distrito Naval (vide foto 7). Na região foi construido um ancoradouro, o mais importante da cidade durante o século XVIII. O cais era pequeno e não suportava o aporte de navios maiores que fundeavam ao largo, próximo à Ilha das Cobras e Ilha de Villegagnon, o que dificultava o embarque e desembarque de mercadorias que eram transferidas para saveiros atrasando a operação portuária em alguns dias. Se o navio fosse de passageiros o desconforto era igualmente grande. Urgia a construção de um cais novo para sanar as enormes dificuldades existentes.

 
7. Praia e Cais dos Mineiros

8. 1844 - planta do centro da cidade
 (o destaque em amarelo representa a futura Av. Presidente Vargas)

No mapa inicial desta postagem onde se lê "Armazém do Sal" (ao pé do Morro da Conceição), na atual Praça Mauá, havia também a Prainha que foi omitida naquela imagem, entretanto está indicada claramente na planta acima. Pelo nome no diminutivo acredita-se que era uma praia mais famosa por sua localização do que por sua extensão. A posição aproximada era entre o trecho do atual píer do Museu do Amanhã e a base Morro de São Bento voltada para a baía, onde no passado remoto existiu a antiga Doca de Dom Pedro. Lembramos ao caro visitante que a atual Rua do Acre denominava-se no passado Rua da Prainha, pois estava em linha reta com esta praia. Ela desapareceu com a construção da Praça Mauá em 1910.

9. Prainha e Valonguinho

Praia do Valongo - Situada no trecho da atual Rua Barão de Teffé (vide foto 7), local onde existiu no passado o Cais do Valongo que recebia embarcações de tráfico de escravos vindos da África até 1831. Em 2011 descobriu-se um sítio arqueológico, hoje exposto à visitação pública. É, por esta razão, considerado patrimônio histórico da humanidade desde 2017. O ancoradouro foi criado no final do século XVIII especialmente para desembarque e comércio de escravos, pois antes era realizado no Cais da Praia do Peixe, na atual Praça XV e comercializado na principal rua da cidade, a Rua Direita (atual Rua Primeiro de Março) causando muito constrangimento aos transeuntes da alta classe. Em 1843 foi construído outro cais no local que recebeu o nome de "Cais da Imperatriz" que desapareceu na gestão do Prefeito Pereira Passos, em 1904.

10. 1835 - Cais do Valongo

Praias da Saúde e da Gamboa - Os dois bairros vizinhos se originaram numa mesma enseada com características geográficas semelhantes e ambos possuíam praias. A orla antigamente era habitada exclusivamente por pescadores e um primeiro aterro desfigurou a enseada com a construção da Rua da Gamboa. As praias foram aterradas totalmente em 1904, na administração de Pereira Passos para a construção do novo Porto do Rio de Janeiro. Sobre as praias, em áreas ganhas do mar, foram construídas enormes edificações, lado a lado, conhecidas na época como trapiches (depois armazéns numerados até 17) na principal rua da região, a nova Av. Rodrigues Alves, que iniciava na Praça Mauá e ainda se estende até o começo de São Cristovão. O cenário natural dos bairros desapareceu assim como a pesca. O impacto causado não foi apenas paisagístico, foi econômico, cultural e ambiental. Toda a região portuária ficou abandonada e desvalorizada até o começo deste século.

11. 1906 - Praia da Saúde
 
12. 1840 - Praia da Gamboa
 
12a. Cerca de 1880 - Praia da Gamboa

12b. 1824 - Praia da Gamboa com o Cemitério dos Ingleses ao fundo

12c. Praia da Gamboa

Praia Formosa - Esta praia ficava localizada no local onde hoje existe a Rodoviária Novo Rio. A região foi aterrada em 1879 para a construção do Canal do Mangue e depois no começo do século XX para a abertura da Av. do Cais (Av. Rodrigues Alves) e do novo porto da cidade.

12c. Praia Formosa

Praia da Saudade - Situada na entrada da Urca, paralelamente à Av. Pasteur. Há uma postagem própria neste blog. Visite clicando aqui.

Praia do Caju - O  bairro é um dos mais antigos da cidade. Com a chegada da realeza portuguesa ao Brasil, em 1808, a região do Caju que era totalmente rural e de beleza natural, iniciou processo de urbanização com o loteamento de terrenos destinados às famílias portuguesas vindas com a Corte que ali foram residir. Dom João VI, morador da Quinta da Boa Vista, local próximo, frequentava suas águas por recomendação médica. Havia até a Casa de Banho do ainda príncipe, onde hoje é o Museu da Comlurb. A extinta praia passava por toda a extensão da atual Rua Monsenhor Manuel Gomes, a rua dos cemitérios, até a Rua da Harmonia. Anos mais tarde com a construção da Av. Brasil, o bairro perdeu muito em importância e acabou abandonado pelo poder público. Finalmente, nos anos 70, com a abertura das vias de acesso à Ponte Rio-Niterói a praia, já bastante poluída, foi aterrada e desapareceu.

13. 1927 - Praia do Caju
 
13a. Praia do Caju
 
13b. Casa de Banhos de D. João VI (hoje Museu da Comlurb), tombada em 1938. Praia do Caju, nº 115
 
13c. Casebres de pescadores à beira mar
 
13d. 1915

13e. 1913. Atletas do Clube de Regatas São Cristóvão na Praia do Caju.
 
13f. Este mapa, datado de 1875, esclarece o real posicionamento das praias de São Cristóvão e do Caju (sublinhadas em branco). Toda a região da orla foi aterrada para a construção da Av. Brasil e, mais tarde, das vias de acesso à Ponte Rio-Niterói. Assinalamos alguns pontos de referência para melhor posicionamento do visitante:
1) Ponta do Caju (local de onde parte a Ponte Rio-Niterói;
2) Campo de São Cristóvão (antiga Praça D. Pedro I);
3) Ilha dos Melões (desapareceu com o aterramento para a construção da Av. Francisco Bicalho);
4) Ilha das Moças (idem);
5) Pedra de São Diogo (resta apenas uma pequena parte);
6) Morro do Pinto;
7) Morro do Telégrafo;
8) Quinta da Boa Vista;
9) Morro de São Roque;
10) Ilha Pombeba;
11) Morro de São Januário; e
12) Igreja de São Cristóvão (circundada em branco).
No canto superior direito também está sublinhada a Praia de Inhaúma, também extinta, assim como as Ilhas do Timbau e do Bom Jardim.
 
Praia de São Cristovão - Os extintos Saco do Alferes, Saco de São Cristovão e sua praia do mesmo nome ficavam onde hoje termina a Av. Francisco Bicalho, na atual área da Rodoviária Novo Rio, estendendo-se até o bairro do Santo Cristo. Durante as obras de construção do novo porto da cidade, na administração do Prefeito Pereira Passos, a região foi aterrada para a passagem da Av. Rodrigues Alves, como também aberto um canal de ligação em curva ao antigo Canal do Aterrado (atual Canal do Mangue). O objetivo era lançar ao mar estas águas insalubres, já que as enchentes em suas margens eram constantes. Desta forma a praia foi extinta.

 
14. 1913 - Praia de São Cristovão

 
14a. 1915 - Pier para desembarque de mercadorias na Praia de São Cristovão
 
14b. 1915 - Cia. Nacional de Armazéns Gerais sito à Praia de São Cristovão, nº 231
 
14c. 1893 - Antiga fortificação localizada na Praia de São Cristovão
 
14d. 1857. 
 
Praia de Maria Angu - Importante balneário da Zona Norte situado na altura do bairro da Penha Circular abrangendo toda a região entre a atual Av. Lobo Junior até os bairros de Olaria e Ramos. Ali havia também um porto (dizem ao final da Rua Pirangi) por onde eram escoados, até o centro da cidade, os produtos agrícolas cultivados em Irajá, Inhaúma até Campo Grande, na Zona Oeste. Nos anos 40 as obras de abertura da Av. Brasil exigiram o aterramento de grande parte da praia e totalmente do porto. O que restou é o que conhecemos hoje como Praia de Ramos (o artificial "Piscinão de Ramos") e o extinto porto é hoje o Iate Clube de Ramos.

15. 1929 - Porto de Maria Angu
 
15a. 1928 - Porto de Maria Angu

15b. 1928. Praia de Maria Angu

16. 1928 - Praia de Maria Angu ou Praia de Ramos
 
17. 1938 - Praia de Maria Angu
 
18. 1938 - Praia de Maria Angu

18a. 1946. Carioca Iate Clube, ainda existente.
 
18b. 1963. Aspecto do aterramento da extinta praia de Maria Angu, antes da construção, em 2001, do lago artificial conhecido como "Piscinão de Ramos", cujo nome oficial é Parque Ambiental da Praia de Ramos Carlos de Oliveira Dicró. 
  
18c. Esta é uma foto de 1956 onde se vê claramente a sujeira espalhada pela areia. Uma constante desta praia até os dias atuais.
 
18d. Cerca de 1965. Praia de Ramos.
 
18e. Década de 70. Praia de Ramos.

Praia do Galeão - Localizada na entrada da Ilha do Governador, ao lado da antiga ponte que levava ao Aeroporto do Galeão e à própria Ilha. No começo da década de 70 suas águas apresentavam alto grau de poluição afastando os banhistas. Em 1991 foi ampliado o Terminal 1 do aeroporto e no ano seguinte começou a construção do Terminal 2, novos viadutos foram levantados para atender a crescente demanda de passageiros e a praia ficou parcialmente encoberta além de imprópria ao banho de mar. Outras praias antigas da Ilha do Governador tiveram o mesmo destino.

19. 1933 - Praia do Galeão
 
20. 1949. Construção do viaduto. O acesso à ilha era antes feito por barcas.
 
21. 1962 - Praia do Galeão
 
22. 1965 - Praia do Galeão
 
23. 1965. Praia do Galeão
 
24. 1966 - Praia do Galeão.
 
25. 1973 - Praia do Galeão  

Encerramos esta postagem apresentando mais um antigo mapa ilustrativo da região central da cidade com todos seus pontos geográficos assinalados: praias, lagoas, morros e ilhas.

26. 1565.

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